Um
projeto de lei que não permite a delegados da Polícia Federal e das polícias
civis estaduais serem retirados de uma investigação, a não ser que tenham
cometido uma ilegalidade, passou quase em surdina no Congresso. Aprovado em
caráter conclusivo na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, em final de
abril, foi puxado para o plenário por 16 senadores, que exigiram a votação
adicional. A proposta, que ainda transforma os delegados em presidentes de
inquéritos, incomoda procuradores de justiça e agentes da Polícia Federal, mas
está sendo defendida com força pelas associações de delegados.
O projeto
impede, por exemplo, que um delegado seja retirado de uma investigação por
simplesmente não levá-la adiante. Exige do superior hierárquico um
"despacho fundamentado" por motivo de interesse público ou se não
forem cumpridos procedimentos que prejudiquem a investigação.
O texto
ainda extingue o poder de outras autoridades policiais de fazer os chamados
termos circunstanciados, exigindo que todos passem por um delegado. Isso
significa que coisas triviais, como uma discussão ou um acidente sem vítimas,
em vez de ser levado diretamente à Justiça, teria que passar por um delegado,
pelo Ministério Público, criando uma imensa burocracia.
"Esse
projeto cria uma supervalorização dos delegados de polícia e um problema
institucional. Estamos afastando cada vez mais quem realmente faz a
investigação de quem a usa, a sociedade e o Ministério Público, colocando cada
vez mais intermediários", critica Flávio Werneck, presidente do Sindicato
dos Policiais Federais do Distrito Federal.
Os
procuradores têm ainda outros problemas com o projeto de lei. "O que nos
preocupa é que, presidindo o inquérito, e não a investigação, um delegado pode
se recusar a cumprir pedidos do Ministério Público", afirmou o senador
Pedro Taques (PDT-MT), responsável pelo pedido de levar o projeto ao plenário.
Excelência
Na
prática, a proposta equipara os poderes dos delegados aos do Ministério Público
- inclusive exigindo que os delegados passem a ser chamados de
"excelência". Há, ainda, um temor que esse seja um primeiro movimento
para que depois se peça a equiparação salarial entre delegados e o Ministério
Público, o que traria um enorme custo para os Estados e para a União.
Autor do
projeto, o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) confirma que sua intenção é
mesmo dificultar a retirada de delegados de uma investigação. "Isso é
verdade. A ideia é mesmo de dificultar a não ser que haja uma boa justificativa
para tal. Eu quero é coibir as mudanças políticas", afirmou.
Sobre os
demais problemas, o deputado diz que o projeto está aberto a emendas, agora que
vai para o plenário do Senado. "Se os procuradores e os agentes têm
problemas, que emendem lá", disse. Faria de Sá, no entanto, garante que
sua proposta não tira poder dos procuradores, e quem acredita nisso "não
leu direito o projeto".
A
proposta foi aprovada em caráter conclusivo na Câmara, sem passar pelo
plenário. O mesmo aconteceu no Senado, quando foi colocada em votação no mesmo
dia em que havia um movimento contra a Proposta de Emenda Constitucional 37, o
que fez com que seus principais opositores estivessem fora da CCJ. Pedro
Taques, então, conseguiu assinaturas suficientes para levar a votação a
plenário, apesar do lobby de delegados que ligaram para cada um dos 16
senadores que assinaram a requisição para pedir que retirassem seu apoio.